«Ontem construi um barco de pedra.
Não resultou.
Do meu ponto de vista, o oceano ainda não se encontra preparado para as grandes invenções.
Um barco de pedra é uma grande invenção.
A água não percebeu assim, paciência.
Gosto de inventar coisas.
Principalmente coisas inúteis.
Por isso mesmo umas pessoas chamam-me poeta, outras vagabundo.
Infelizmente são mais as pessoas que me chamam vagabundo.
Mas tudo bem.
O mundo sempre foi assim.
Sempre houve maior número de idiotas do que de outras pessoas.
A isso chama-se multidão.
Se um tipo fica sem voz vem logo uma data de gente oferecer remédios para a garganta, mas depois, quando começamos a falar , ninguém nos ouve.
Dão-nos remédios para a garganta e depois pedem-nos silêncio.
Não me parece bem.
Ou não nos davam os remédios,
ou deixavam-nos falar.
Enfim.
O mundo é isto.»
Gonçalo M. Tavares, 'O Homem ou é Tonto ou é Mulher'