sexta-feira, julho 29, 2005   

 

confesso que ainda não estou em mim...

 

chinelos?!

 

 

 

diálogo III

 

- boa tarde. queria um crispy mcbacon e um ice tea de limão, por favor.
- menu de verão?
- desculpe?
- se vai querer o menu de verão.
- o que é isso?
- olhe - apontando para um chinelo gigante que pendia por cima da caixa preso por um fio de sedela - se quiser o menu de verão, tem direito a uns chinelos.
- ah! não, obrigada, não quero os chinelos para nada. pode ser o menu normal.
na caixa ao lado, uma senhora discutia com a funcionária porque ontem tinha levado uns chinelos azuis e hoje só havia cor-de-rosa e cor-de-laranja.
- está a ver? toda a gente quer os chinelos.
- pois, mas eu não sou toda a gente.
paguei e fui sentar-me a comer sossegadamente o raio do hamburguer.
- queria um sundae de caramelo, por favor. (por azar, calhou-me na rifa o mesmo empregado)
- ah!, se o menu de verão oferecesse um geladinho já não dizia que não.
acho que o raio do moço ficou amofinado com a minha recusa aos malditos chinelos.

 

 

 

 

quando anoitece
contorno no meu rosto
o perfil do dia que passou
e tudo o que não sou
me contradiz

quando anoitece
faço emergir do abismo
um instinto quase secreto
e fujo da noite,
em vertiginosa simetria com o vento.

 

 

 

insomnia

 

há noites que duram uma eternidade nas paredes do quarto.

 

quinta-feira, julho 28, 2005   

 

magic words

 

'zummm... porto'

 

 

 

é quase eterna a raiz das árvores disponíveis

 


Mihai Mangiulea

 

quarta-feira, julho 27, 2005   

 

razões

 

Essa Miúda
Essa miúda é uma fogueira
Que te acende as noites em qualquer lugar
E tu desejas arder com ela
Enquanto bebes o perfume
Que ela deita nos seus trapos de côr
Para te embriagar

Essa miúda é um exagero
Diz que sem ti não sabe voar
E tu adoras voar com ela
E enquanto inventas espaços novos
Ela vai arquitectando uma teia
Para te aconchegar

Essa miúda faz-te acreditar
Que o Sol é um presente
Que a aurora traz
Principalmente para ti

Essa miúda é uma feiticeira
Prende-te a mente e põe-se a falar
E tu bem tentas compreendê-la
Mas o que sai da sua boca
Não parece condizer com o que ela
Te diz com o olhar

Essa miúda faz-te acreditar
Que o Sol é um presente
Que a aurora traz
Principalmente para ti
Jorge Palma - Qualquer coisa Pá Música (1979)

 

 

 

voltei a sonhar com o soares

 

desta vez ele procurava um geriatra para ser mandatário da campanha.

 

terça-feira, julho 26, 2005   

 

flashback

 

porque se fazem promessas parvas como essas de proibir o curso das palavras? as palavras são como um rio dentro delas. é difícil construir-lhes uma barragem.
não fosse ele e as palavras continuariam adormecidas. mas isto ela não escreveu porque assim ficou prometido. [ainda se ele chegasse ao entardecer...]. mas nem os desabafos ela podia escrever. tornara-se ridícula com a verdade das palavras e pedira-lhe que ele não as levasse a sério.
o que ela não escreveu foi como tudo isto lhe doía porque tinha ainda tantas coisas para dizer. veio então a chuva e ela deixou que ela lhe esbatesse os sentidos e o desejo. e também isto ela não escreveu.

 

 

 

 

quando era pequena, pousei a mão em cima do aquecedor por curiosidade e queimei-me. aprendi, desde esse dia, que não se deve por a mão em nada sem antes colocar um só dedo. cada uma das minhas mãos têm cinco dedos. dez dedos. as minhas mãos. aprendi então a gostar das coisas pequenas como os dedos das mãos. aprendi também que não gostava de muita coisa. aprendi, no entanto, que é necessário gostar e não gostar das coisas. aprendi que é importante saber.
aprendi a noite. aprendi que chorar muito não faz com que chore menos. aprendi a observar as coisas e as pessoas. aprendi que importa muito mais o que os outros pensam ou não pensam. o que gostam e o que não gostam. aprendi a questionar e a estar calada. aprendi a fazer por falhar antes de falhar. aprendi, depois, a falhar. aprendi para que servem as janelas e para que servem os espelhos. aprendi a não me arrepender. aprendi a conhecer-me e a entender-me e não me entendo nem a maior parte das vezes. aprendi que não cheguei nunca onde queria chegar porque, muito antes, já tinha aprendido a desviar-me do caminho a seguir.

 

 

 

esta noite tive um pesadelo

 



...sonhei que o Mário Soares ia ser candidato à Presidência da República.

 

segunda-feira, julho 25, 2005   

 

carrossel

 

esperar para entrar. rodar-me em mim. escravizar as mãos e os círculos. chegar ao lugar de partida. sempre. sem dar um único passo. como uma coisa óbvia. demasiado. esperar para entrar. girar. andar às voltas. ser louco. respirar.

 

 

 

acordar...

 



e cheirar a terra. e sorrir logo pela manhã.

 

sexta-feira, julho 22, 2005   

 

«mandei-lhe uma carta em papel perfumado»

 

este blog tem vida própria! :O

 

quarta-feira, julho 20, 2005   

 

[suspiro]

 

Come sail your ships around me
And burn your bridges down.
We make a little history baby
Every time you come around.
Come loose your dogs upon me
And let your hair hang down.
You are a little mystery to me
Every time you come around.

We talk about it all night long
We define our moral ground.
But when I crawl into your arms
Everything comes tumbling down.

Come sail your ships around me
And burn your bridges down.
We make a little history baby
Every time you come around.

Your face has fallen sad now
For you know the time is nigh
When I must remove your wings
And you, you must try to fly.

Come sail your ships around me
And burn your bridges down.
We make a little history baby
Every time you come around.
Come loose your dogs upon me
And let your hair hang down.
You are a little mystery to me
Every time you come around.
Nick Cave & The Bad Seeds

 

terça-feira, julho 19, 2005   

 

diálogo II

 

na tv passa uma peça qualquer sobre o fcp:

v. - este co adriaanse é bom. duro. tem a escola do ajax.
p. - ena!, então deve ser bom a lavar vidros.

 

sexta-feira, julho 15, 2005   

 

diálogo

 

- olha, vou tomar café e já volto.
- fazes muito bem, c'a fé é que nos salva.

 

 

 

almoço

 




fotografias de telemovel
parque da cidade - 15/07

1 livro
1 baguete de atum
1 coca-cola


uma suave brisa
e miúdos com chapéus brancos a gritar.

 

quinta-feira, julho 14, 2005   

 

otoverme infantil

 

Lá em cima há planícies sem fim,
há estrelas que parecem correr,
há o Sol e o dia a nascer,
e nós aqui sem parar numa Terra a girar.

Lá em cima há um céu de cetim,
há cometas, há planetas sem fim,
galileu teve um sonho assim,
há uma nave no espaço a subir passo a passo.

Lá em cima pode ser o futuro,
alegria, vamos saltar o Mundo,
e a rir, unidos num abraço,
vamos contar uma história...

Ah!, que saudades do 'Era uma vez o espaço'... e como eu gostava daquele velhinho com umas barbas até ao chão :) parecia mesmo que se lhe tinha acabado o gel de banho B)

 

terça-feira, julho 12, 2005   

 

 

«Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-iris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.»


a.r.rosa

 

segunda-feira, julho 11, 2005   

 

No meio disto tudo há um sítio que tu não vês

 

«Acordo sem saber das minhas mãos. Suo e não ouso mexer-me. Tenho medo de já ter acordado, de haver outro dia. Tenho medo de tudo e ainda mais medo sem que saiba de quê. Suo e não sinto as minhas mãos. Fico quieta. Fecho com mais força os olhos, como se os não tivesse fechados. Não quero acordar, não quero acreditar. Se o dia vem em que tudo isto vai acabar, acabar por acabar mais vale que seja agora, quero que seja agora. É insuportável esperar o que se sabe que vem e tarda e não tem de qualquer modo sentido esperar. Mais vale agora, sim, que não veja hoje o dia se é só mais um dia que vem e vai. Não é mais tarde que tudo acaba: é agora, sempre agora que tudo acaba, tem de acabar, nem antes nem depois por que não há. O que há é agora, sempre igual e diferente, tão diferente agora sempre a acabar.
Eu sei o que quero saber. É o bastante. E mesmo se não souber quase nada, prefiro que seja assim. Não há mais nada que eu queira saber. Tenho medo do que não sei. O que eu não sei não vai mudar nada. O que eu não sei só vai fazer as coisas ficarem piores do que já estão.
Só se houver alguma coisa à nossa frente que não seja uma ruína, então sim, gostaria que mo dissesses. se não, não digas nada. E sobretudo não tenhas pena. Nem julgues que saberias de quê. Eu já sabia que não havia maneira. Não foi sempre assim. Trago-te comigo junto a mim, a memória aflita. (...).»
Pedro Paixão

 

 

 

otoverme vespertino

 



In the town where I was born lived a man who sailed to sea.
And he told us of his life in the land of submarines.
So we sailed up to the sun till we found the sea of green.
And we lived beneath the waves in our yellow submarine.

We all live in a yellow submarine,
Yellow submarine, yellow submarine
We all live in a yellow submarine,
Yellow submarine, yellow submarine

And our friends are all on board, many more of them live next door.
And the band begins to play.
We all live in a yellow submarine,
Yellow submarine, yellow submarine.
We all live in a yellow submarine,
Yellow submarine, yellow submarine.

And we live a life of ease. Everyone of us has all we need.
Sky of blue, and sea of green, in our yellow submarine.
We all live in a yellow submarine,
Yellow submarine, yellow submarine.
We all live in a yellow submarine,
Yellow submarine, yellow submarine.
We all live in a yellow submarine,
Yellow submarine, yellow submarine.
We all live in a yellow submarine,
Yellow submarine, yellow submarine.

 

 

 

dias

 

deixei de os contar e os últimos 10 foram assim uma espécie de presságio.

 

sábado, julho 09, 2005   

 

10º dia

 

...

 

sexta-feira, julho 08, 2005   

 

*ouch*

 

levei um murro no estômago.

 

 

 

9º dia

 

dentro de nós a cumplicidade que só nós conhecemos.
e os dias assim: quietos de palavras a romperem silêncios.
os gestos como complemento.

 

quinta-feira, julho 07, 2005   

 

8º dia

 

fortaleza dos ossos
varanda alinhada nos dentes
pequenez daquilo que se sente

razão da noite
rente aos astros.

 

quarta-feira, julho 06, 2005   

 

definitivamente

 

estou mais magra. caiu-me o anel do polegar.

 

 

 

7º dia

 

Menino do rio, calor que provoca arrepio
Dragão tatuado no braço, calção corpo aberto no espaço
Coração de eterno flerte, adoro ver-te
Menino vadio, tensão flutuante do Rio
Eu canto pra deus proteger-te
O Hawaí seja aqui, tudo o que sonhares
Todos os lugares, as ondas dos mares
Pois quando eu te vejo eu desejo o teu desejo
Menino do rio, calor que provoca arrepio
Toma esta canção como um beijo.

- Caetano Veloso


[Monsanto Set. 2004]

 

terça-feira, julho 05, 2005   

 

6º dia

 

Afurada. O rio e o mar ao longe. Serenidade.

 

segunda-feira, julho 04, 2005   

 

coisas que só me interessavam a mim

 

apaguei-os

 

 

 

5º dia (com o 3º e 4º de permeio)

 

Deito fora as imagens.
Sem ti, para que me servem
as imagens?

Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em qualquer parte
e cuja direcção
é igualmente passageira e verídica.

Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.

Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.

Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.

Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.

Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.

E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.

- Raul de Carvalho

 

sexta-feira, julho 01, 2005   

 

2º dia

 

«O que dói
é tudo e mais aquilo que desteço
ao tecer para ti novos regressos.»

Daniel Faria (excerto do poema Ítaca)

 

 

pergunta-me [se te apetecer]

parece que foi ontem:

pronto, já passou:

os outros:

procura [se te apetecer, também]