quinta-feira, abril 28, 2005   

 

Madalena

 

Madalena
O meu peito percebeu
Que o mar é uma gota
Comparado ao pranto meu

Certo
Quando o nosso amor esperto
Logo o sol se desespera
E se esconde lá na serra

Madalena
O que é meu não se divide
Nem tão pouco se admite
Quem do nosso amor duvide

Até a lua
Se arrisca no palpite
Que o nosso amor existe
Forte ou fraco
Alegre ou triste
Ivan Lins / Elis Regina
Hoje fui conhecer a Madalena.
Pele clara, faces rosadas e uns olhos azuis a lembrar o mar. Desengane-se quem acha que os bebés quando nascem são todos 'feios' - isto se não forem nossos, claro, aí são sempre os mais lindos do mundo - a Madalena é linda!
Bem-vinda ao mundo, querida.

 

 

 

para quê? porquê?

 

Pedro.
«A morte dos amigos e conhecidos traz uma pergunta enigmática que nos desconstrói a imortalidade. Escrevo-a na lousa escolar em letras tortas de hesitação - para quê? Apago as letras com a esponja, fica o escuro da pedra. Para quê? É a pergunta da infância e da velhice. Apago a pergunta na memória e fica a lisura de simplesmente existir. E a imortalidade volta como a ternura triste de um cão.»
- Vergílio Ferreira, Escrever

 

quarta-feira, abril 27, 2005   

 

if you know what i mean...

 


© Alfredo Cunha

 

sexta-feira, abril 22, 2005   

 

 

Estado de espírito:

 

 

 

antecipar abril - II

 

Tanto Mar
Chico Buarque (1975)

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também que é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

 

quinta-feira, abril 21, 2005   

 

 

para quê um blog musical se posso ter isto sempre à mão? Assim, como uma viagem na palma da mão...

 

 

 

amor é

 

Foram almoçar juntos. Ele pergunta-lhe o que é que ela quer beber e ela, naquele seu jeito gozão, responde-lhe:
- Uma garrafa pequena de vinho da casa.
Ele ri-se.
Tinham ido almoçar ao McDonald's.

 

 

 

#14

 

Aqui habito entre vidros
esquinas
praças
ruas
espero um momento na sombra

da noite

um dia a vida há-de mover-se

 

quarta-feira, abril 20, 2005   

 

antecipar abril

 


© Alfredo Cunha

 

 

 

 

O amigo

Era um rapaz passivo. Aceitava tudo o que vinha dos chefes. Porém, como era bajulador, incomodava.
Cortaram-lhe a língua: deixou de elogiar.
Depois cortaram-lhe os dedos. Deixou de escrever textos laudatórios.
Foi num desses dias que, com a cabeça a bater numa mesa - em código morse - ele disse, para os seus chefes:
- Mais uma como esta e perdem um amigo.
***********
O delito mais grave
Todo o cidadão que não soubesse respeitar as hierarquias militares era condenado a seis anos de prisão. E todo o cidadão que assassinasse outro era condenado a vinte anos de prisão.
O assassino, ao ver que o general assistira ao seu crime, jogou tudo por tudo e disse: você é um reles soldado!
Resultou.
Como os juizes castigavam sempre o delito mais grave o homem foi condenado a seis anos de prisão.
**********
Interrupção
Um homem muito velho, quase cego, sem memória, que tremia e mal conseguia andar, tropeçou e caiu com o coração em cheio sobre a lâmina afiada de uma faca.
Antes de morrer ainda conseguiu dizer: «logo agora que».
- Gonçalo M. Tavares, O Senhor Brecht (Editorial Caminho, 2004)

 

terça-feira, abril 19, 2005   

 

 

Se este blog tivesse música hoje seria esta e sem direito a botão de stop.

The Gunner's Dream
Pink Floyd (The Final Cut)

Floating down through the clouds
memories come rushing up to meet me now
in the space between the heavens
and in the corner of some foreign field
i had a dream
i had a dream
goodbye max
goodbye ma
after the service when you're walking slowly to the car
and the silver in her hair shines in the cold november air
you hear the tolling bell
and touch the silk in your lapel
and as the tear drops rise to meet the comfort of the band
you take her frail hand
and hold on to the dream
a place to stay
enough to eat
somewhere old heroes shuffle safely down the street
where you can speak out loud
about your doubts and fears
and what's more no-one ever disappears
you never hear their standard issue kicking in your door
you can relax on both sides of the tracks
and maniacs don't blow holes in bandsmen by remote control
and everyone has recourse to the law
and no-one kills the children anymore
and no-one kills the children anymore
night after night
going round and round my brain
his dream is driving me insane
in the corner of some foreign field
the gunner sleeps tonight
what's done is done
we cannot just write off his final scene
take heed of the dream
take heed.

 

 

 

É terça-feira

 

Foi no regresso.
Disseste que sim, que era ali a Feira da Ladra e, juntos, começamos a trautear:

É terça feira
e a feira da ladra
abre hoje às cinco
da madrugada

E a rapariga
desce a escada quatro a quatro
vai vender mágoas
ao desbarato
vai vender
juras falsas
amarguras
ilusões
trapos e cacos e contradições

É terça feira
e das cinzas talvez
amanhã que é quarta-feira
haja fogo outra vez
o coração
é incapaz
de dizer
"tanto faz"
parte para a guerra
com os olhos na paz

É terça feira
e a feira da ladra
quase transborda
de abarrotada

E a rapariga
vende tudo o que trazia
troca a tristeza
pela alegria
e todos querem
regateiam
amarguras
ilusões
trapos e cacos e contradições

É terça feira
e a feira da ladra
fica enfim quieta
e abandonada
e a rapariga
deixou no chão um lamento
que se ergue e gira
e roda com o vento
e rodopia
e navega
e joga à cabra-cega
é de nós todos
e a ninguém se entrega.

- Sérgio Godinho

 

segunda-feira, abril 18, 2005   

 

#13

 

Há um deserto adiado
dentro de mim.

 

 

 

aqui ouve-se...

 

 

sexta-feira, abril 15, 2005   

 

#12

 

Lábios
polpa lisa
alinhar língua
voz de nervo
tempo vivo
célula
espera
beijo
horizonte líquido

 

quinta-feira, abril 14, 2005   

 

gosto

 

do tom melancólico com que isto é cantado:


Xutos & Pontapés - O Homem do Leme

 

segunda-feira, abril 11, 2005   

 

 

Neste blog não se fala de política. Isto não é política. Isto é... o Marques Mendes.*

Pois é, lá terminou mais um congresso do PSD. Marques Mendes saiu vencedor. Porreiro. Finalmente o PSD tem um líder à altura do partido. Já o estou a imaginar, qual Ana Drago, a discursar para os outros senhores em cima de uma grade de cervejas.
Uma coisa é certa: se o resultado das próximas eleições for um desastre, pelo menos o tombo não é grande.
B)
* Bekx dixit

 

sexta-feira, abril 08, 2005   

 

#11

 

Recomeço as manhãs.
Regresso à alvorada do possível que
a terra cobre.

 

 

 

 

Ter acordado ao som desta música só pode ser bom presságio. Ou talvez não.

Coração Ateu
Maria Bethânia

O meu coração ateu quase acreditou
Na sua mão que não passou de um leve adeus
Breve pássaro pousado em minha mão
Bateu asas e voou
Meu coração por certo tempo passeou
Na madrugada procurando um jardim
Flor amarela, flor de uma longa espera
Logo meu coração ateu
Se falo em mim e não em ti
É que nesse momento
Já me despedi
Meu coração ateu
Não chora e não lembra
Parte e vai-se embora.

 

quinta-feira, abril 07, 2005   

 

ontem

 

Ontem podia ter sido um dia como os outros.
As sms's e telefonemas dos amigos, os telefonemas da família, os beijinhos hipócritas dos colegas de trabalho B).
Ontem podia muito bem ter sido um dia como os outros. Mas ontem não foi um dia como os outros. Ontem o telefone não tocou às 7h50m nem ouvi a voz da minha mãe que, todos os anos, me dizia: "Parabéns, filha. Foi a esta hora que nasceste."
Tenho saudades tuas, Mãe.

 

quarta-feira, abril 06, 2005   

 

da subtileza do papel de embrulho

 



B)

 

 

 

 

como sempre, ele foi o primeiro.

*

 

sexta-feira, abril 01, 2005   

 

#10

 

Lajedo. Onde os meus passos escorregam como se chuva fossem no empedrado. Impenetrável, nem deixaste uma brecha por onde se respire. Um sopro de fala onde ponha estas flores.

 

 

 

 

«A noite. A casa. O quarto. Onde o linho se tece linha a linha até ao cume das sílabas. Daí se avista o ermo estéril ou o verde lonjura – demanda de outra noite, a mesma casa, o mesmo quarto, outro linho.»

- João Pedro Mésseder, Espuma

 

 

pergunta-me [se te apetecer]

parece que foi ontem:

pronto, já passou:

os outros:

procura [se te apetecer, também]