quinta-feira, junho 30, 2005   

 

1º dia

 

«[...]
quando escrevo mar
o mar todo entra pela janela
onde debruço a noite do rosto tocado... me despeço»

Al Berto - O Medo

 

quarta-feira, junho 29, 2005   

 

'poucos mas bons'

 

são assim os meus amigos: poucos, bons e 'inúteis', como devem ser os verdadeiros amigos.
o eduardo é meu amigo há anos e há anos que não nos vemos (2 anos, eduardo?). vamos almoçar juntos 6ª feira e tenho a certeza que será como se nos tivéssemos visto ontem.
:)

 

 

 

esta manhã

 

a chuva e o cheiro a terra molhada. as memórias de áfrica à flor da pele. as saudades.

 

terça-feira, junho 28, 2005   

 

 

«O amor é um animal selvagem que chega até nós em silêncio. Aloja-se em nós e ocupa cada ponto do nosso corpo, mais, toda a nossa vida. O seu poder de contaminação é total. Basta um só olhar. O amor é esse conflito permanente e completo: liberta e agarra, é doçura e amargura, refaz e desfaz, ressuscita e adormece, faz-nos sonhar e confronta-nos com a realidade pura e dura, dá a luz. Mas também tem o poder de nos matar.
No amor oscilamos entre tudo poder ser e nada poder ser, a impossibilidade de tudo. É este o amor, é esta a nossa vida.
Tu sabes, não sabes? Eu sei muito pouco, quase nada. De ti quero aprender tudo. O melhor e o pior. O resto é-me indiferente.»
Pedro Paixão, idem

 

segunda-feira, junho 27, 2005   

 

 

«Só te vi duas vezes. Apanhaste-me desprevenido. Foram os teus olhos ou o teu sorriso. Da primeira vez não falámos. Só te vi de pé. Olhavas para longe. Da segunda disseste-me que nada fazias, que nada pretendias fazer, que tudo seria inútil. Que gostarias de trazer um pouco de felicidade a alguém e não sabias como nem a quem.
[...]
Só te vi duas vezes e foi o bastante para agarrares o que me resta da alma e dói mais do que o prazer.
[...]
Fiquei prezo a ti pelos teus olhos doces, um pouco tristes, pelo teu sorriso do tamanho do mundo.
O melhor será não voltarmos a ver-nos. O tempo prega-nos constantes partidas e chegadas. U chegaste quando julguei que mais ninguém chegaria. Com o meu pequeno coração no centro do meu corpo líquido fui perdendo qualquer esperança. Uma a uma.
[...]
Portanto vi-te e não te vi. Entrevi-te. Quando procuro juntar as linhas do teu rosto elas apagam-se. Só te consigo rever em movimento contínuo. A levares o copo de vidro fino aos teus lábios. A rires-te de mim. O gesto seguro com que me agarraste para não tropeçar ao descer uma escada. Onde estás tu para voltar a sentir que não existimos, que somos feitos de nada e que nisso tudo vive a maravilha de estarmos aqui.
Eu estou aqui e é tudo, também mo disseste com a tua voz clara que essa não esquecerei facilmente. Sim, foi a tua voz que me agarrou por dentro. Agora tenho a certeza. Nem tenho mais certeza alguma. Tu não deixaste. Esta é suficiente. É demais até. Tu não deixaste que eu te soubesse. Entraste em mim como uma seta, rápida como o vento, quente como o fogo.»
- Pedro Paixão in Ladrão de Fogo

 

quinta-feira, junho 23, 2005   

 

fim-de-semana!

 

the love boat soon will be making another run
the love boat promises something for everyone
set a course for adventure,
your mind on a new romance


[assobiando]

que foi? hm? na próxima semana este blog volta a ser deprimente. prometo.

 

 

 

and now for something completely different *

 


santo antónio já se acabou
o s. pedro esta-se a acabar
s. joão, s. joão, s. joão
dá cá um balão para eu brincar
* Monty Phyton

 

 

 

a sério...

 

o que eu gostava mesmo, mesmo, era de não ter passado grande parte do dia a cantarolar: 'the love boat soon will be making another run...'

 

quarta-feira, junho 22, 2005   

 

mesmo, mesmo?

 

arranjar bilhetes para o próximo concerto do tony carreira no pavilhão atlântico.

 

 

 

pronto. agora é que é mesmo a sério, a sério...

 

o que eu gostava mesmo, mesmo, era de ter uma colcha de renda e uma bneca espanhola em cima da cama.

 

terça-feira, junho 21, 2005   

 

agora a serio... o que eu gostava mesmo, mesmo?

 

de ter um daqueles cães em porcelana, aqueles que abanam a cabeça, na parte de trás do carro.

 

segunda-feira, junho 20, 2005   

 

o que eu gostava mesmo, mesmo?

 

ter o quadro do menino da lágrima na parede da sala e um galo de barcelos em cima do frigorífico. essa é que é essa.

 

 

 

 

«não escrevo a ninguém, deixei de dar notícias. ninguém precisa de saber onde me encontro, se cheguei bem, se vou partir, se mudei de rosto ou de máscara.
um pássaro, dois homens puxando redes.
até quando poderei suportar a minha própria ausência?
e a vertigem?
o mar é um jardim que me afasta, de momento, de qualquer morte. continuar ausente é com certeza a melhor maneira de estar vivo, atento aos estremecimentos do mundo.
sentado ao fundo dum espelho tomo a realidade por reflexo, escuto as estrelas, sou espectador das marés, do vento, da chuva. não tenho intenção de inventar um novo rosto para o corpo que perdi.»

Al Berto – ‘O Medo’

 

quarta-feira, junho 15, 2005   

 

#17

 

guardo um negativo de memórias
preso no meu coração.

 

terça-feira, junho 14, 2005   

 

 


Fotografia de: alberto monteiro


há quem enlouqueça a olhar o mar
com barcos sangrando sobre as costas.

 

 

 

 

não voltaremos a pressentir o mar
nem sequer lembraremos o turvo sal das bocas
sobre o rosto gémeo da máscara que nos esconde

louco pássaro de cinza sulcando o ar rarefeito
e a escuma luminosa dos meteoros que cegam
os frementes alicerces da cidade insone

não nos reflectiremos mais nos gestos desgastos
nem na demência da língua donde irrompe a alba
e nómadas continuaremos para lá do sangue
flutuantes no escuro sonho
os corpos incendiados um no outro
consomem-se formando insuspeitas constelações
vagarosamente
através dos séculos regressaremos
intactos ao nada inicial.


- Al Berto, 'O Medo'

 

segunda-feira, junho 13, 2005   

 

 

19/01/1923 - 13/06/2005







«No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.»











- Eugénio de Andrade

 

quinta-feira, junho 09, 2005   

 

 

hoje queria dizer-te o mais bonito poema e que assim adormecesses tão encostado no meu peito. é que hoje sou forte, sabes? já consigo passear de olhos fechados pela casa. já sei ir ter à janela sem tropeçar.
hoje não queria ficar a decorar as manchas na parede branca. não queria ficar a observar tudo o que não respira. tu respiras. num quarto longe de mim. baixinho, tão baixinho. hoje queria dizer-te o mais bonito poema que não conheço. e adormecer, assim, tão encostada no teu peito.

 

quarta-feira, junho 08, 2005   

 

música a adivinhar um verão bem quente aqui dentro

 

I can see clearly now the rain is gone
I can see all obstacles in my way
Gone are the dark clouds that had me blind
It's gonna be a bright, bright, bright, bright, sun shiny day

I think I can make it now the pain is gone
All of the bad feelings have disappeared
Here is the rainbow I've been praying for
It's gonna be a bright, bright, bright, bright, sun shiny day

Look all around, there's nothing but blue skies
Look straight ahead, there's nothing but blue skies

I can see clearly now the rain is gone
I can see all obstacles in my way
Gone are the dark clouds that had me blind
It's gonna be a bright, bright, bright, bright, sun shiny day.


Johnny Nash

 

 

 

private joke

 

Hoje está um belo dia para passear à beira mar [de mão dada] e dar pontapés às gaivotas.

B)

 

 

 

 

Hoje acordei com vontade de ser feliz

Iludo a distância
no silenciar das mãos

não vou deixar que qualquer angústia
me atinja o coração.

 

terça-feira, junho 07, 2005   

 

 

«Eu não quero mudar o mundo.
Não tenho tempo para isso.
Quem quer mudar o lugar do mundo actua como quem muda o lugar de um móvel:
empurra primeiro para um lado,
foi força demais,
empurra então para o outro,
agora com força de menos,
depois mais um pequeno toque para lá
e um ainda mais pequeno para lá,
e agora sim:
o móvel está no lugar.
Depois abrimos o móvel e vemos que os copos que estavam lá dentro se encontram todos partidos.
Estão a ver?
Os copos todos partidos.
Que aborrecimento.
Não nos lembramos da fragilidade do vidro.»
________
«Ontem construí um barco de pedra.
Não resultou.
Do meu ponto de vista, o oceano ainda não se encontra
preparado para as grandes invenções.
Um barco de pedra é uma grande invenção.
A água não a percebeu assim, paciência.
Gosto de inventar coisas.
Principalmente coisas inúteis.
Por isso mesmo umas pessoas chamam-me poeta, outras vagabundo.
Infelizmente são mais as pessoas que me chamam vagabundo.
Mas tudo bem.
O mundo sempre foi assim.
Sempre houve maior número de idiotas do que de outras pessoas.
A isto chama-se multidão.
Se um tipo fica sem voz vem logo uma data de gente oferecer remédios para a garganta, mas depois, quando começamos a falar, ninguém nos ouve.
Dão-nos remédios para a garganta e depois pedem-nos silêncio.
Não me parece bem.
Ou não nos davam remédios, ou deixavam-nos falar.
Enfim.
O mundo é isto.»
Gonçalo M. Tavares, «O homem ou é tonto ou é mulher»

 

segunda-feira, junho 06, 2005   

 

 

sem apressar nenhuma palavra, desfilam as memórias na teia das horas. quero que saibas: a saudade é maior agora.

 

 

 

[no silêncio das mãos]

 

e
na fusão dos dedos fizemos o (nosso) entendimento.

:)*

 

 

 

 

O que há de mais real é esta distância inerme
que não entrega que não abandona nem consuma
e está tanto lá fora como no âmago de nós.
Não é por ela e é por ela que uma guitarra dolente chora
é por ela que às vezes se bate uma porta inteiramente opaca
e é por ela que procuramos num berço vegetal o sono inteiro do nosso peso.
O que há de mais discreto e mais anónimo é essa distância sem pontes
essa monotonia incessante que a luz não ilumina
porque está no seio da luz e não é sombra nem luz.
Não é mistério nem matéria para fábulas
e sendo irreal é a essência vazia do real
onde não se colhem mensagens nem secretos signos.
Não se ouvem nela cantos de sereia mas a sua ténue estridência
é um canto de sereia porque é um silêncio de intérmino vazio
onde já não estamos vivos nem podemos morrer .
Mas o corpo quer edificar sobre a matéria viva
e em si próprio se recolhe com uma arca do silêncio
ou para o dia estende os braços com ramos
que querem envolver o sol e reunir as cores.
E é essa construção que o poema edifica
entre duas margens dessa distância inerme
no instantâneo fulgor de uma brancura ardente.

António Ramos Rosa, «Os animais do Sol e da Sombra seguido de O Corpo Inicial»

 

quinta-feira, junho 02, 2005   

 

-me

 

escondo-me
absolvo-me
recomponho-me
questiono-me
desdobro-me em alvo e seta
decifro o destino
decifro-me
mastigo papéis com palavras
(e odeio-te)

 

quarta-feira, junho 01, 2005   

 

 

a chama levantada
em nossas mãos cravo
de espanha derramado sopro
do princípio do mundo
corpo do nosso corpo fogo
do sol descido e hasteado.

 

 

 

hoje é dia mundial da criança. ah!, pois é...

 

 

 

pergunta-me [se te apetecer]

parece que foi ontem:

pronto, já passou:

os outros:

procura [se te apetecer, também]