O que há de mais real é esta distância inerme
que não entrega que não abandona nem consuma
e está tanto lá fora como no âmago de nós.
Não é por ela e é por ela que uma guitarra dolente chora
é por ela que às vezes se bate uma porta inteiramente opaca
e é por ela que procuramos num berço vegetal o sono inteiro do nosso peso.
O que há de mais discreto e mais anónimo é essa distância sem pontes
essa monotonia incessante que a luz não ilumina
porque está no seio da luz e não é sombra nem luz.
Não é mistério nem matéria para fábulas
e sendo irreal é a essência vazia do real
onde não se colhem mensagens nem secretos signos.
Não se ouvem nela cantos de sereia mas a sua ténue estridência
é um canto de sereia porque é um silêncio de intérmino vazio
onde já não estamos vivos nem podemos morrer .
Mas o corpo quer edificar sobre a matéria viva
e em si próprio se recolhe com uma arca do silêncio
ou para o dia estende os braços com ramos
que querem envolver o sol e reunir as cores.
E é essa construção que o poema edifica
entre duas margens dessa distância inerme
no instantâneo fulgor de uma brancura ardente.
António Ramos Rosa, «Os animais do Sol e da Sombra seguido de O Corpo Inicial»
Looking forward to seeing you :-)xx
posted by Anónimo | 11:13 da manhã
Hummm, vá, aposto que já sabes dizer isso em português B)
Hello, Tom :)
posted by batata | 11:43 da manhã
Hiya!
I'll try ;-)
Estar desejoso de te encontrares (?) Sorry, I know it's wrong :'(
xxx
posted by Anónimo | 11:54 da manhã
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