No meio disto tudo há um sítio que tu não vês

 

«Acordo sem saber das minhas mãos. Suo e não ouso mexer-me. Tenho medo de já ter acordado, de haver outro dia. Tenho medo de tudo e ainda mais medo sem que saiba de quê. Suo e não sinto as minhas mãos. Fico quieta. Fecho com mais força os olhos, como se os não tivesse fechados. Não quero acordar, não quero acreditar. Se o dia vem em que tudo isto vai acabar, acabar por acabar mais vale que seja agora, quero que seja agora. É insuportável esperar o que se sabe que vem e tarda e não tem de qualquer modo sentido esperar. Mais vale agora, sim, que não veja hoje o dia se é só mais um dia que vem e vai. Não é mais tarde que tudo acaba: é agora, sempre agora que tudo acaba, tem de acabar, nem antes nem depois por que não há. O que há é agora, sempre igual e diferente, tão diferente agora sempre a acabar.
Eu sei o que quero saber. É o bastante. E mesmo se não souber quase nada, prefiro que seja assim. Não há mais nada que eu queira saber. Tenho medo do que não sei. O que eu não sei não vai mudar nada. O que eu não sei só vai fazer as coisas ficarem piores do que já estão.
Só se houver alguma coisa à nossa frente que não seja uma ruína, então sim, gostaria que mo dissesses. se não, não digas nada. E sobretudo não tenhas pena. Nem julgues que saberias de quê. Eu já sabia que não havia maneira. Não foi sempre assim. Trago-te comigo junto a mim, a memória aflita. (...).»
Pedro Paixão

 

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

profundo...

um abraço amiga (daqueles apertados)

abraços sabem sempre bem :)

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