quarta-feira, dezembro 14, 2005   

 

 

«Mas há a noite. O estar sozinho
e no entanto acompanhado - servo de um deus estranho
cumprindo o ritual jamais completo.

Mas há o sono. A lúcida surpresa
de um mundo imaterial e necessário
com praias onde o corpo se desprende.

Mas há o medo. Há sobretudo o medo.
Fel, rancor, desconhecido apelo,
suor noturno, rápido suicídio.»

Daniel Filipe, A Invenção do Amor e Outros Poemas

 

terça-feira, dezembro 06, 2005   

 

 

da saga: os meus amigos são mais imbecis que os teus...

apresento a última oferta:

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a este nem lhe tiro o plástico para não se estragar B)

 

 

 

leitura nocturna

 

«- não há céu. Não o ouço. Ouço o tecto da casa, as tellhas quentes.
(...)
- (...) Hoje, o teu nome é uma ilha que visito. O grande álcool. A parede onde a minha voz se perde.
- vejo o céu. O céu azul. E num dia de céu azul, ver o céu e dizer: o céu azul. E repetir: o céu é azul, o céu é azul, o céu é azul o céu. E à medida que vou ficando cansada, vou deixando de ver o céu. Até a cor ser uma ausência.
(...)
Só há um lugar para a solidão de cada um.»
Rui Nunes, Grito

 

quinta-feira, dezembro 01, 2005   

 

 

sida

aqueles que têm o nome e nos telefonam
um dia emagrecem - partem
deixam-nos abandonados ao abandono
no interior duma dor inútil muda
e voraz
arquivamos o amor no abismo do tempo
e para lá da pele negra do desgosto
pressentimos vivo
o passageiro ardente das areias - o viajante
que irradia um cheiro a violetas nocturnas
acendemos então uma labareda nos dedos
acordamos trémulos confusos - a mão queimada
junto ao coração
e mais nada se move na centrifugação
dos segundos - tudo nos falta
nem a vida nem o que dela resta nos consola
a ausência fulgura na aurora das manhãs
e com o rosto ainda sujo de sono ouvimos
o rumor do corpo a encher-se de mágoa
assim guardamos as nuvens breves os gestos
os invernos o repouso a sonolência
o vento
arrastando para longe as imagens difusas
daqueles que amámos e não voltaram
a telefonar

al berto, horto de incêndio

 

 

pergunta-me [se te apetecer]

parece que foi ontem:

pronto, já passou:

os outros:

procura [se te apetecer, também]