conto-te enrolado nos dentes
com lâmpadas acessas a caírem
no silêncio do teu corpo.
quarta-feira, março 30, 2005 |
conto-te enrolado nos dentes
com lâmpadas acessas a caírem
no silêncio do teu corpo.
empalecem as últimas sílabas do poema
e só as pálpebras secam
uma
a
uma
quinta-feira, março 24, 2005 |
quarta-feira, março 23, 2005 |
a solidão
o sol
a limpidez do rio.
segunda-feira, março 21, 2005 |
Procuro o rosto com os dedos afiados pelo desejo. Toco a alba das pálpebras que, de súbito, se abrem para mim.
Um fio de luz coalha na saliva do lábio.
Ouvimos o mar, como se tivéssemos encostado a cabeça ao peito um do outro. Mas não há repouso nesta paixão.
O dia cresce, sem luz – e os pássaros soltam-se do pólen dos sonhos, embatem contra os nossos corpos.
Nada podemos fazer.
Um risco de passos ensanguentados alastra pelo chão da cidade. A noite cerca-nos, devora-nos. Estamos definitivamente sozinhos.
Começamos, então, a imitar a vida um do outro. E, abraçados, amamo-nos como se fosse a última vez...
O tempo sempre esteve aqui, e eu passei por ele quase sempre sozinho.
No entanto, recordo: deixaste-me sobre a pele um rasgão que já não dói. Mas quando a memória da noite consegue trazer-te intacto, fecho os olhos, o corpo e a alma latejam de dor.
Dantes, o olhar seduzia e matava outro olhar. Agora, odeio-te por não me pertenceres mais. Odeio-te. Abro os olhos. Regresso ao meu corpo e odeio-te. E, quem sabe se no meio de tanto ódio não te perdoaria – mas ambos sabemos que o perdão não existe.
Se fugias, perseguia-te. Mas o olhar começava a cegar. Sentia-te, já não te via. E o pior é que o tacto também esqueceu, rapidamente, a sensualidade da pele e o calor do sexo. O rosto aprendido de cor.
Hoje, tudo se sobrepõe. Nomes, rostos, gestos, corpos, lugares... um montão de cinzas que me deixaste como herança.
Não devo perder tempo com o ciúme. A paixão desgastou-me. E nunca houve mais nada na minha vida – paixão ou ódio.
Só isto: se me aparecesses agora, tenho a certeza, matava-te.»
- Al Berto, O Anjo Mudo
sexta-feira, março 18, 2005 |
O que fazer quando eles batem à porta e nos convidam para jantar?
Sentei à minha mesa
os meus demónios interiores
falei-lhes com franqueza
dos meus piores temores
tratei-os com carinho
pus jarra de flores
abri o melhor vinho
trouxe amêndoas e licores
chamei-os pelo nome
quebrei a etiqueta
matei-lhes a sede e a fome
dei-lhes cabo da dieta
conheci bem cada um
pus de lado toda a farsa
abri a minha alma
como se fosse um comparsa
E no fim, já bem bebidos
demos abraços fraternos
saíram de mansinho
aos primeiros alvores
de copos bem erguidos
brindámos aos infernos
fizeram-se ao caminho
sem mágoas nem rancores
Adeus, foi um prazer!
disseram a cantar
mantém a mesa posta
porque havemos de voltar
quinta-feira, março 17, 2005 |
quarta-feira, março 16, 2005 |
Look mummy, there's an aeroplane up in the sky
Did you see the frightened ones?
Did you hear the falling bombs?
Did you ever wonder why we had to run for shelter when the
promise of a brave new world unfurled beneath a clear blue
sky?
Did you see the frightened ones?
Did you hear the falling bombs?
The flames are all gone, but the pain lingers on.
Goodbye, blue sky
Goodbye, blue sky.
Goodbye.
Goodbye.
Goodbye.
The 11:15 from Newcastle is now approaching
The 11:18 arrival...
* Pink Floyd - The Wall
«(...)
os poemas adormeceram no desassossego da idade.
fulguram na perturbação de um tempo cada dia mais
curto. e, por vezes, ouço-os no transe da noite. assolam-me
as imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas... e
nada escrevo.
o regresso à escrita terminou. a vida toda fodida - e
a alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.
a dor de todas as ruas vazias.»
- Al Berto, Horto de Incêndio
sexta-feira, março 11, 2005 |
rio de rios
que contas darei
de tantas gotas?
mais próxima do chão carrego as outras
elevo-as e levam-me
juntamente para o mar.
Não quero demorar tanto tempo os meus olhos na parede.
sexta-feira, março 04, 2005 |
quinta-feira, março 03, 2005 |
quarta-feira, março 02, 2005 |
Soube no teu corpo
o lugar do meu
o rumor dos barcos
na espuma da voz.
«Amo-te no intenso tráfego
com toda a poluição no sangue.
Exponho-te a vontade
o lugar que só respira na tua boca
ó verbo que amo como a pronúncia
da mãe, do amigo, do poema
em pensamento.
Com todas as ideias da minha cabeça ponho-me no silêncio
dos teus lábios.
Molda-me a partir do céu da tua boca
porque pressinto que posso ouvir-te
no firmamento.»
- Daniel Faria
Entre o pressentimento e a aparição voamos sobre o medo. Nos olhos, a intacta clareira da solidão.
agosto 2004 setembro 2004 outubro 2004 novembro 2004 dezembro 2004 janeiro 2005 fevereiro 2005 março 2005 abril 2005 maio 2005 junho 2005 julho 2005 agosto 2005 setembro 2005 outubro 2005 novembro 2005 dezembro 2005 janeiro 2006 fevereiro 2006 março 2006 abril 2006 maio 2006 junho 2006 julho 2006 agosto 2006 setembro 2006 outubro 2006 novembro 2006 dezembro 2006 janeiro 2007 fevereiro 2007 março 2007 abril 2007 junho 2007 outubro 2007 julho 2014
Powered by
Blogger
&
Blogger Templates