das mãos e da importância do sublinhado nos livros

 

«As mãos nos bolsos de Klaus. Como era estranho aquele seu gesto de esconder as mãos nos bolsos. As mãos e os olhos eram o fundamento da guerra: sem mãos é impossível odiar, odeias pelas pontas dos dedos, como se estes fossem o canal habitual e único de uma certa substância química má. As mãos nos bolsos são um processo de educar o édio, processo lento quando comparado com aquele bem mais forte que é a amputação dos braços. Mas só com as mãos nos bolsos os homens já acalmam.
Com as mãos nos bolsos um homem percebe que não é Deus. (...). Se tocares no mundo com a cabeça obterás desse toque sentimentos secundários; afastados de uma intensidade mínima a que a existência das mãos te habituou. As mãos tornam-te intenso. (...).
Claro que as mãos nos bolsos fazem aumular emoções no resto do corpo. Como se os dedos, às escondidas, destapassem algo. Com as mãos nos bolsos sente-se mais, pensa-se menos.
(...)
As mãos são orgãos susceptíveis de se emocionarem. As mãos não terão apenas sentimentos tácteis, mas também sentimentos mais complexos: como a grande tristeza.»
- Gonçalo M. Tavares, Um Homem: Klaus Klump

 

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