urgência

 


«Regressa a ti, vão sendo horas. Ao vazio de ti, à tua nulidade. É o teu lugar. Felizes dos que têm sonhos, projectos ou mesmo ódio e só ódio para irem vivendo. Porque tudo serve para se fazer de vivo, mesmo a morte quando ainda o não é. Que o morto já não faz de nada, nem de morto. Regressa a tua casa e limpa os pés à porta de todas as lamas do mundo. Deixa-te mesmo a ti lá fora se mesmo tu fores demais. A ausência, a última essência de ti que é o teu vazio, de que é que precisas mais? Experimenta desembaraçar-te de tudo o que arrastas contigo e são só carga a carregar. Ditos mexericos ambições. E o ódio de quem precisa de te odiar e tu aceitas que te odeia para poderes dizer-lhe que não tem razão e ele a tem por teres precisado de dizer que não. E as lamúrias que tu dizes a ti para te não ouvirem e tu ouves à falta de não teres quem te ouça. E mesmo a farrapada do que se chama cultura só serve para atrapalhar. Regressa a tua casa e vem sozinho. E dorme para não estares acordado e ser tudo outra vez possível.»
Vergílio Ferreira, Escrever

 

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