sexta-feira, fevereiro 24, 2006   

 

 

«Se te pergunto o caminho, falas-me das rochas
que mortificam o dorso das montanhas; e do ranger
da água no galope dos rios; e das nuvens que coroam
as paisagens. Contas que a noite geme nas fendas

dos penhascos porque as cidades apodreceram junto
às margens; que o vento é um chicote que desba
os chapéus; que a terra treme; que o nevoeiro cega; e
que as casas onde o medo se extinguia na longa bainha do
vestido da mãe cederam ao peso das mágoas dentro delas.

e, se assim mesmo quero ir, dizes que os meus passos
se perderiam no comprimento das sombras - que não há
mapas para os sonhos de quem morre de amor; e que
os ramos debruçados dos muros em ruínas rasgariam
a carne - como um sorriso rasga o tecido de um rosto.

Se não me amas, porque me avisas assim da dor?»

Maria do Rosário Pedreira
O Canto do Vento nos Ciprestes

 

quinta-feira, fevereiro 23, 2006   

 

posologia: ler repetidamente até à exaustão

 

a principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

e é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

e entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

o primeiro dia - sérgio godinho

 

quarta-feira, fevereiro 15, 2006   

 

algures na cidade. uma mulher. um homem

 

ela disse:
estive dentro do carro, entre a 6ª e a 7ª palmeira, durante 2 horas a ver um homem pescar. durante duas horas fui a linha que mergulhou vezes sem conta no fundo do mar.

ele disse:
Estive a fazer que pescava, não sei se em frente à 6ª se à 7ª palmeira, durante duas horas a ver uma mulher fumar. Pelos olhos e pela cinza, esquecidos, durante duas horas tenho a certeza de a ter mergulhado vezes sem conta no fundo do mar.

nenhum dos dois disse coisa alguma. antes têm silêncios.

 

terça-feira, fevereiro 14, 2006   

 

decisão

 


ser mais que um vínculo minúsculo sem entardecer ou entristecer.

 

 

 

2 horas

 


a olhá-lo. como se no fundo do mar estivessem todas as respostas.

 

segunda-feira, fevereiro 13, 2006   

 

 

nada. foi como se a insónia me tivesse arrancado tudo.

 

sexta-feira, fevereiro 10, 2006   

 

muito antes do passeio alegre...

 


sempre que leio o blog do antónio e vejo isto que ele ainda mantém, fico com saudades do meu antigo blog. hoje aconteceu outra vez. coisas.

 

quinta-feira, fevereiro 09, 2006   

 

 


No alto silêncio da noite
construir pontes
destruir secretos recessos
Resistir sem alarido
ao efeito boomerang

[Ana Hatherly - Fibrilações]

 

 

 

já íam sendo horas...

 




Josef Koudelka - Magnum

de mudar o visual ao blog.



 

sexta-feira, fevereiro 03, 2006   

 

deves ter muito a ver com isso, deves

 

fui desafiada pela ana e pelo duarte a partilhar as minhas manias. quem me conhece sabe que sou uma gaja pouco dada a manias, a não ser a mania que tenho a mania, que, vendo bem as coisas, é a maior mania de todas as manias que se possam ter.
vamos lá fazer o trabalho de casa.

1. a mania das molas da roupa:
esta mania é a minha mania mais maníaca, confesso. sou incapaz de estender roupa no estendal sem que as cores das molas combinem com a cor da peça de roupa a estender. exemplificando: se estendo uma t-shit verde, nunca, mas nunca, coloco mola de cor amarela. trauma de infância. ainda ouço as vozes que gritavam: ‘amarelo e verde, escarro na parede’.

2. a mania de gozar:
gozo com tudo. tudo. não há momento, até o mais trágico, que me impeça de gozar e rir como uma tonta.
exemplificando: há um ano atrás, num dos momentos mais difíceis da minha vida, fui incapaz de conter o riso, quando, ao dirigir-me à junta de freguesia para tratar de um assunto pessoal e pedindo para falar com o presidente Image Hosted by ImageShack.us, não foi a ele que vi a dirigir-se a mim, mas sim o Image Hosted by ImageShack.us com a Image Hosted by ImageShack.us a segui-lo.

3. a mania do leite:
ucal. em garrafa. gelado. à noite, antes de dormir.

4. a mania da folha e do lápis:
em cima da mesa de cabeceira para que, quando acordo a meio da noite e me lembro dos sonhos, possa tomar notas. esta mania está a cair em desuso uma vez que a minha actividade mental durante o sono tem sido bastante escassa.

5. a mania das vacas:
é a minha mania mais querida. colecciono tudo que diga respeito a vacas: porta-chaves, bibelôs, postais, recortes de revistas, fotografias, etc.

posto isto, e até porque há coisas com as quais não se brinca e o que é preciso é saudinha, para não correr o risco de ter um acidente grave caso quebre esta bendita corrente, decidi depois de muita reflexão, passar o testemunho às seguintes pessoas:

alberto
B.zito
batukada
Dr. Scepticu

bem-hajam

 

 

pergunta-me [se te apetecer]

parece que foi ontem:

pronto, já passou:

os outros:

procura [se te apetecer, também]