dói-me quando não falas, quando não dizes nada, quando me afastas a ternura, quando transformas as viagens projectadas em longínquos desejos.
tinham um percurso de palmeiras quando não iam rente às casas do rio. abrigavam-se nos umbrais, encostavam-se nos paredões e assistiam à passagem das águas.
um dia o rio encheu. as ruas foram súbitos canais onde pescadores tristes recolhiam as pérolas dos seus pertences que o rio inundara.
estreitaram-se muito nos braços um do outro. ela chamava-lhe nomes ternos. ele beijava-lhe os olhos e o cabelo. ficavam depois em silêncio.
as águas voltaram ao leito inicial. limparam-se as ruas das marés, embebedaram-se os marinheiros para festejar o regresso. e eles ficaram pelas margens, a riscar corações no musgo das paredes, a morderem-se nos lábios.
ela dizia-lhe: tenho para te oferecer uma ribeira, uma cidade à chuva, a vontade de chorar que nunca tive na infância mas que agora sinto. tenho para te dar as minhas mãos e os meus dedos. tenho para te dar a persistência dos meus ainda poucos anos.

 

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