«Abandonar a aldeia o lugar a casa o corpo
a escrita e todas as paisagens
viajar escondido no comboio-correio da noite

repisar tua sombra oblíqua naqueles areais
cercado de água morder o coral do medo
onde tua ausência se quebra... migrar
com as marés da noite para regiões onde o sonho existe
fora de ti

uma cerveja outra e outra
para que um sorriso se revele na embrieguez da despedida
abro um livro:
....Uma só coisa é necessária: a solidão, a grande solidão interior. Caminhar
em si próprio e, durante horas, não encontrar ninguém - é a isto que preciso chegar.
não consigo ler mais... fecho os olhos
a paisagem desaparece num rápido e desfocado adeus

penso voltar
e sei que mentira desperta já em mim
recosto-me profundamente no assento... desafio o son
invade-me a ânsia do eterno viajante

comboios barcos que vão para onde?
esperem por mim
eu vou»

Al Berto
de «Salsugem», 1978/83: Doze Moradas de Silêncio, 1978/79

 

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