otoverme matinal
A morte saiu à rua num dia assim
naquele lugar sem nome para qualquer fim
uma gota rubra sobre a calçada cai
e um rio de sangue de um peito aberto sai
o vento que dá nas canas do canavial
e a foice duma ceifeira de Portugal
e o som da bigorna como um clarim do céu
vão dizendo em toda a parte o pintor morreu
teu sangue, pintor, reclama outra morte igual
só olho por olho e dente por dente vale
à lei assassina, à morte que te matou
teu corpo pertence à terra que te abraçou
aqui te afirmamos dente por dente assim
que um dia rirá melhor quem rirá por fim
na curva da estrada há covas feitas no chão
e em todas florirão rosas de uma nação.
Zeca Afonso, 'A Morte Saiu à Rua'
Enviar um comentário