sexta-feira, janeiro 28, 2005   

 

Atchim!

 

 

quinta-feira, janeiro 27, 2005   

 

27 de Janeiro de 2005

 

Curdistão
Ruanda
Sudão
Burundi
Angola
Chechénia
Iraque
...

até daqui a 60 anos

 

quarta-feira, janeiro 26, 2005   

 

tracinho te. tracinho me

 

desvendar-te
esquadrinhar-te
desdobrar-te
fragmentar-te
decifrar-te

descobrindo-me

esquadrinhar-me
descobrir-me
desdobrar-me
fragmentar-me
decifrar-me

desvendando-te

 

 

 

quando anoitece

 

passeio o hálito dos teus lábios
pela minha boca
o silêncio de todas as dores atiradas
do peito para a praia
aperto o cinto das nuvens com as mãos golpeadas

e pelos bicos do peito sai-me
o fumo azul da alma

 

 

 

o dia em que o JP escreveu uma canção para o Santana e para o Portas

 

Estás demitido, obviamente demitido
tu nunca roubaste um beijo
e fazes pouco das emoções
és o espantalho dos amantes.
Estás demitido, obviamente demitido
evitas a competência
não reconheces o mérito
és um pilar da cepa torta

E assim vamos vivendo
na província dos obséquios
cedendo e pactuando enquanto der
filósofos sem arte, afugentamos o desejo
temos preguiça de viver

Estás demitido, obviamente demitido
subornas os próprios filhos
trocaste o tempo por máquinas
tu és um pai desnaturado.
Estás demitido, obviamente demitido
arrasas a obra alheia
às vezes usas pseudónimo
tu és um crítico de merda

E assim vamos vivendo...

Estás demitido, obviamente demitido
encostas-te às convergências
nunca investiste num ideal
tu sempre foste um demitido
tu foste sempre um demitido
já nasceste demitido!


- Jorge Palma (Norte)

 

terça-feira, janeiro 25, 2005   

 

o dia em que o 'voçês' invadiu a blogosfera

 

vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vovocês vocês vocês vocês vocês vocês cês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês ... arre! É assim tão difícil?

 

 

 

 

«Queres saber quem sou? Eu sou o que te olha e espia para te recolher e depois guardar num lugar que é só meu. Para isso serve o papel. O resto não precisas saber. Não convém. Só te ia distrair, podes crer. Eu sou o que mergulha as mãos na tua vida para sentir a minha a voltar.»

- Pedro Paixão (muito, meu amor)

 

 

 

 

Quando no teu rosto se evolam
todas as metáforas dos olhos
e nas pétalas mais sós de todas as rosas
o sangue é o suporte busto que tem o vento
levo portas mágoas coisas ditas desditas
coágulos teias chuva horizontal
tumores de sementes explosões minerais
circuitos de circuitos onde
me excedo recuo recorto estradas
lugares ausências

ternura que desamarro.

 

segunda-feira, janeiro 24, 2005   

 

da série: 'ele há coisas que me fazem rir'

 

tomem lá disto

 

 

 

música para o dia de hoje

 

Logo que Passe a Monção
Carlos Tê/Rui Veloso

Num banco de névoas calmas quero ficar enterrado
Num casebre de bambú na minha esteira deitado
A fumar um narguilé até que passe a monção
Enquanto a chuva derrama a sua triste canção

Sei que tenho de partir logo que suba a maré
Mas até ela subir volto a encher o narguilé
Meu capitão já é hora de partir e levantar ferro
Não me quero ir embora diga que foi ao meu enterro

Deixem-me ficar deitado a ouvir a chuva a cair
Que ainda estou acordado só tenho a alma a dormir
Como a folha de bambú a deslizar na corrente
Apenas presa ao mundo por um fio de água morrente

Nos arrozais morre a chuva noutra água há-de nascer
Abatam-me ao efectivo também eu me vou sem morrer
Para quê ter de partir logo que passe a monção
Se encontrei toda a fortuna no lume deste morrão

Ópio bendito ópio minhas feridas mitiguei
Meu bálsamo para a dor de ser
Em ti me embalsamei
Ópio maldito ópio foi para isto que cheguei
Uma pausa no caminho
Numa névoa me tornei

 

 

 

 

vemos o mesmo oceano a partir de janelas diferentes.
o mesmo mar que observamos em silêncio, inquietos.
o nosso amor desfeito por toda a parte...

 

sexta-feira, janeiro 21, 2005   

 

 

Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um

- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum

- Eugénio de Andrade

 

 

 

 

Quem sabe um dia. Talvez outro dia.

 

quarta-feira, janeiro 19, 2005   

 

há dias assim

 

as palmas das mãos levam-me
ao interior das coisas indicadas onde

sei que não sei nada.

 

terça-feira, janeiro 18, 2005   

 

resquícios de uma noite de inverno

 



;)

 

segunda-feira, janeiro 17, 2005   

 

Constatação

 

Subo pelas pernas da luz até
chegar acima dos ombros da cidade

e grito: nunca o Porto esteve tão belo em Janeiro

 

 

 

post-it

 

não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer. não esquecer.
World Press Photo no Fórum da Câmara Municipal da Maia
Paula Rêgo no Museu de Arte Contemporânea de Serralves

 

sexta-feira, janeiro 14, 2005   

 

 

Outono (Estratégia da Cigarra)
Jorge Palma*

Lembro viagens vida fora
nas curvas do teu corpo
onde repouso o olhar
tantos caminhos onde me perdi
as voltas que eu já dei para me encontrar...

Como se um homem decidisse
partir à descoberta
da sua essência final
ingrata e grande, essa tarefa vã
é como demandar o santo Grall

Saboreei o que a vida me ofereceu
tudo o que sinto é só meu
eu nunca renunciei!
e vou continuar a estratégia da cigarra
cantando o inverno a chegar

Saúdo a tua companhia
com vinho envelhecido
nas profundezas do amor
não desdenhando o que usufrui
desfruto intensamente o teu sabor

Filosofias da existência
doutrinas que não servem
vivências ímpares, pessoais
arrecadei-as no meu velho baú
e sigo, respeitando os rituais

Saboreei o que a vida me ofereceu
tudo o que sinto é só meu
eu nunca renunciei!
e vou continuar a estratégia da cigarra
cantando o inverno a chegar

*'Norte'

 

 

 

 


Rio Homem - Gêres

vagarosamente seremos
como um rio com pressa
e que tudo arrasta


 

quinta-feira, janeiro 13, 2005   

 

 

somos
de
nós
próprios
o
limite
multiplicamos células no espaço

 

 

 

 


perto das árvores
roemos rochas
limbos
portos
rótulos
riscos
matamos o asco
na raiva acesa dos braços

 

quarta-feira, janeiro 12, 2005   

 

 



nas noites de insectos
as minhas mãos curvam-se
sobre ti

respiro este calar de encontro
num processo de poros que
atinge o espírito

estendo o meu corpo contra o teu
no orvalho molhado a minha boca
repousa

e o som cresce no
interior dos morangos

 

 

 

 


*Palmeiras no Passeio Alegre*

 

 

 

 

são as minhas mão abertas
minhas estrelas cadentes
perdulárias movo-as
animal incitado mordo
a água e amanso-a
no moinho dos dedos
crinas de fogo

 

terça-feira, janeiro 11, 2005   

 

 

No espaço não temos horas
exactas
o acréscimo do tempo existe
sobre si próprio renovado

construimos olhos de ver
e a forma sustida grave
se assemelha à pétala da seiva

estamos onde não sabemos o sítio certo
dentro e fora de nós
incessantemente cruzados

imagem da imagem
ultrapassada.

 

segunda-feira, janeiro 10, 2005   

 

 

A altura é a diferença que se move no
corte das sombras maiores
(tudo depende da luz)
sede que se tem da chuva que se toma
em paixão terra picada onde a
vida continua

inclinamo-nos para o sol
morrem cadeiras de espaldar
forradas de palavras chocalhadas
e levamos à boca a nossa própria imagem

ninguém perpetua nenhum nome
a saliva pacienta na gengiva
quando estamos perto da verdade
na acidez pura

aqui não há refúgio nenhum...

 

 

 

 

«Quando o vento se levanta e passa, tua cabeça adormecida põe-se a brilhar. Em redor dela um halo de sombra onde a minha mão entra, vagarosamente, pedindo-te um sinal.
Procuro o rosto com os dedos afiados pelo desejo. Toco a alba das pálpebras que, de súbito, se abrem para mim.
Um fio de luz coalha na saliva do lábio.
Ouvimos o mar, como se tivéssemos encostado a cabeça ao peito um do outro. Mas não há repouso nesta paixão.
O dia cresce, sem luz – e os pássaros soltam-se do pólen dos sonhos, embatem contra os nossos corpos.
Nada podemos fazer.
Um risco de passos ensanguentados alastra pelo chão da cidade. A noite cerca-nos, devora-nos. Estamos definitivamente sozinhos.
Começamos, então, a imitar a vida um do outro. E, abraçados, amamo-nos como se fosse a última vez...
O tempo esteve sempre aqui, e eu passei por ele quase sempre sozinho.
No entanto, recordo: deixaste-me sobre a pele um rasgão que já não dói. Mas quando a memória da noite consegue trazer-te intacto, fecho os olhos, o corpo e a alma latejam de dor.
Dantes, o olhar seduzia e matava outro olhar. Agora, odeio-te por não me pertenceres mais. Odeio-te. Abro os olhos. Regresso ao meu corpo e odeio-te. E, quem sabe se no meio de tanto ódio não te perdoaria – mas ambos sabemos que o perdão não existe.
Se fugias, perseguia-te. Mas o olhar começava a cegar. Sentia-te, já não te via. E o pior é que o tacto também esqueceu, rapidamente, a sensualidade da pele e o calor do sexo. O rosto aprendido de cor.
Oje, tudo se sobrepõe. Nomes, rostos, gestos, corpos, lugares... um montão de cinzas que me deixaste como herança.
Não devo perder tempo com o ciúme. A paixão desgastou-me. E nunca houve mais nada na minha vida – paixão ou ódio.
Só isto: se me aparecesses agora, tenho a certeza, matava-te. »
- Al Berto, 'Cartas', O Anjo Mudo (Assírio & Alvim)

 

sexta-feira, janeiro 07, 2005   

 

 

um passo
e
o
corpo
parte drapejado pano
braço de rio
derrame na garganta
rumo
rumor
cachoeira solta
remo
e
ramo

 

quinta-feira, janeiro 06, 2005   

 

variação sobre um poema

 

solta a égua
tem que ser ferida
tem que ser abatida
represa água.

 

quarta-feira, janeiro 05, 2005   

 

 

um leque
um cravo
dedilhado e metálico
como um alvo furtivo
aquilo que se perde
desmanchado na água
semicerrado rosto.

 

terça-feira, janeiro 04, 2005   

 

 

Sísifo

Recomeça...
se puderes
sem angústia
e sem pressa.
E os passos que deres,
nesse caminho duro
do futuro
dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
não descanses.
de nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
o logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
onde, com lucidez, te reconheças...

- Miguel Torga

 

segunda-feira, janeiro 03, 2005   

 

 

espelho baço forrado a solidão
dói-me o corpo à cabeceira das
rosas que murcharam

-rugas sobre rugas-

de ambos os lados da vida
examino o silêncio que cresce
pulsos entre braços
interior de mãos onde o gesto
solta o justo tempo

aqui e agora é dentro de mim a hora exacta
luz verdadeira da palavra
jamais mortalha estrangular de grito mas
fogo água pássaros completos ressuscitados em
voo directo ao futuro que trago em punhais e astros
nos pulsos de cristais abertos.

 

 

 

 

Gosto disto! Ó se gosto!

 

 

pergunta-me [se te apetecer]

parece que foi ontem:

pronto, já passou:

os outros:

procura [se te apetecer, também]